No começo de março, o SoftBank foi manchete nos principais veículos que cobrem o mercado de tecnologia no Brasil ao anunciar a criação de um fundo de US$ 5 bilhões para investir na América Latina. No mesmo mês, o CEO do SoftBank Latin America, Marcelo Claure, responsável pelo fundo, fez um roadshow pela região e se reuniu com empreendedores locais. Em entrevista por email para Mobile Time, o executivo elogia o ecossistema brasileiro de startups e revela que o primeiro investimento do novo fundo na América Latina será anunciado nas próximas semanas.

Mobile Time – Por que o SoftBank decidiu criar um fundo para investir na América Latina? Quais motivos atraíram a empresa para essa região em particular?

Marcelo Claure, executivo responsável pela gestão do fundo do SoftBank na América Latina

Marcelo Claure – Eu argumentei para o Masayoshi Son (CEO e fundador do SoftBank) em apoio ao investimento do SoftBank na região. Para começar, por ter crescido na América Latina, testemunhei em primeira mão a criatividade e a paixão do povo. Há tanta inovação e ruptura na região, e acredito que as oportunidades de negócios nunca foram tão fortes.

Hoje, acreditamos que há uma série de fatores que tornam a América Latina o mercado ideal para empresas de tecnologia emergentes e empreendedores, e temos o capital necessário e a visão de longo prazo para apoiá-los em suas jornadas.

As características únicas e o rápido desenvolvimento econômico do mercado latino-americano, juntamente ao fato de representar 10% da população mundial e 8% do PIB mundial (duas vezes o PIB da Índia e metade do da China), apresentam oportunidades de crescimento para implantação rápida de tecnologia em escala e inovação disruptiva. Exemplos incluem:

  1. Rápido crescimento da classe média: Desde 2000, mais de 50 milhões de pessoas na região passaram a fazer parte da classe média, gerando aumento da renda disponível.
  2. Popularização da Internet e do Smartphone: Um aumento drástico na popularização da Internet e do smartphone levou a uma digitalização da vida diária; os mais de 375 milhões de usuários da Internet na América Latina e 250 milhões de usuários de smartphones superam os Estados Unidos.
  3. Comportamento do Consumidor: Uma grande mudança no comportamento do consumidor para um foco nas compras online; as vendas de e-commerce no varejo cresceram de US$ 29,8 bilhões em 2015 para US$ 54,0 bilhões em 2018.
  4. Digitalização de Serviços Financeiros: As atividades bancárias estão sendo realizadas online cada vez mais, mas aproximadamente 70% (400 milhões de pessoas) de latino-americanos permanecem sem banco ou sem acesso a ferramentas bancárias.
  5. Infraestrutura de transporte: A região sofre com o transporte público severamente subdesenvolvido; de 1992 a 2010, a região investiu apenas 0,5% do PIB em transporte, em comparação à média global de 1,6%.
  6. Cidades densas: A região é altamente urbanizada, com 79% da população vivendo em áreas urbanas, em comparação com 48% na China e 29% na Índia.
  7. Soluções da área de saúde: Os serviços são fragmentados e a incidência de doenças não-transmissíveis deve aumentar; novos casos de câncer por ano e o número de pessoas que sofrem de diabetes devem crescer 66% e 60%, respectivamente, de 2012 a 2030.

Em relação ao tamanho e à maturidade, em que tipo de empresa o SoftBank planeja investir? Por quê?

Investiremos diretamente em startups em estágio avançado, uma vez que tenham comprovado um forte modelo de negócios e precisem de capital para expandir seu crescimento. Nosso objetivo é ajudar a desenvolver o mercado em geral, além de startups em todas as fases através de parcerias com outros fundos de investimento, universidades e aliados do governo.

Quais segmentos serão o foco do fundo (ex.: Fintechs, Edtechs, saúde etc.)? Por quê?

Buscamos empresas e empreendedores que tenham a capacidade de usar inteligência artificial e dados para desafiar indústrias tradicionais. As indústrias de foco particular para o Fundo na região incluem comércio eletrônico, serviços financeiros digitais, saúde, mobilidade e seguros, entre outras.

Quais países você acredita que receberão a maior parte do investimento do SoftBank? Por quê?

O Fundo investirá em toda a América Latina. Nosso objetivo é encontrar empresas e empreendedores fortes, não importando onde eles estejam localizados na região, e fornecer a eles recursos para crescer. Sem recursos, a criatividade é limitada.

Qual é a sua avaliação do ecossistema de startups brasileiro?

O Brasil possui a maior economia da região e é o ecossistema mais desenvolvido para startups. Por exemplo, quando eu estava em São Paulo, visitei o Cubo e fiquei impressionado. Para ser claro, eu não acho que os brasileiros são necessariamente mais inteligentes do que os hispânicos, mas tem havido muita dedicação no País para a construção do ecossistema de startups.

Existe um limite mínimo ou máximo de investimento em cada empresa?

Não, não há um investimento mínimo ou máximo para cada empresa.

O SoftBank planeja adquirir o controle das empresas investidas ou prefere ser um sócio minoritário? Por quê?

Fornecemos capital às empresas para que os empreendedores não tenham que se preocupar com a captação de recursos e tenham mais tempo para se preocupar com o crescimento de seus negócios. Nós não queremos controlar as empresas.

Além do dinheiro, que benefícios estratégicos o SoftBank oferece às companhias investidas?

Temos um portfólio de mais de 100 empresas no SoftBank que podemos conectar com as startups da América Latina. Também planejamos desenvolver as indústrias por meio de parcerias com fundos, universidades e outros participantes. Além disso, podemos ajudar empresas externas a se estabelecer na região e a crescer no mercado.

Quando você espera anunciar o primeiro investimento na região?

Esperamos anunciar o primeiro investimento nas próximas semanas.

Quantas empresas da região o SoftBank pretende investir ao longo deste ano?

Não temos um número estimado. O SoftBank está procurando qualidade, não quantidade. Desde que encontremos boas empresas com meios para romper suas indústrias, estamos felizes em investir.

Existem negociações já acontecendo?

Sim. Mesmo antes de nossa visita, há duas semanas, já havíamos entrado em contato com atores-chave nesses países. Há duas semanas, iniciamos um roadshow de quatro dias durante o qual pudemos nos reunir com vários empreendedores, empresários e funcionários do governo para conhecer suas necessidades e potencial.

Quanto tempo levará para concluir o investimento de US$ 5 bilhões na região?

Não temos uma data definida para concluir a rodada de investimentos. Dependerá da rapidez com que encontremos empresas que se encaixem em nossos valores.